domingo, 17 de julho de 2016

Filipe Nyusi é um presidente de faz de conta, afirma o académico João Pereira


Se em Agosto de 2015, João Pereira ainda tinha reservas, hoje o politólogo já não tem dúvidas: Filipe Nyusi é um presidente de faz de conta, afirma o académico que alerta para o risco de o engenheiro de Mueda ficar na história como aquele que levou a Frelimo para uma grande derrota eleitoral.

O académico diz que a actual crise económica resultou da ganância pela acumulação primitiva da riqueza, mas é assertivo em assinalar que vai provocar rupturas profundas no seio de um partido cuja lógica esteve baseada, durante anos, numa rede clientelista de acomodação e de distribuição de recursos que, com a crise, escasseiam e como tal já não chegam para todos.

Siga a entrevista na qual, dentre várias leituras, o docente de ciência política avisa que esta é a última vez que a Renamo usa armas para atingir fins políticos. João Pereira tem acompanhado atentamente o desenrolar e as dinâmicas do país.

Como é que caracteriza a actual situação de Moçambique?
É verdade que existem sinais positivos em relação ao processo de negociação da paz para acabar com a tensão político-militar, mas ainda faltam muitas coisas determinantes. Muitas vezes, a estratégia é de acomodação das elites políticas deste país.
É verdade que é um factor determinante para a estabilização política, mas acomodar as elites da Renamo, do MDM, da Frelimo, sem acomodar as demandas da sociedade, não cria uma sociedade estável. E, neste momento de crise profunda, como será possível acomodar, por exemplo, as elites da Renamo, sem acomodar a base social da Renamo.

Construímos um Estado e um sistema político que alimenta simplesmente as elites políticas, em termos de acesso a recursos de poder, financeiros, mas esquecemos de construir o país, a partir de instituições credíveis que respondem àquilo que são as demandas do cidadão.

E quais são as demandas do cidadão?
Um bom sistema de educação, de saúde, água, saneamento, transporte público, um sistema que seja transparente, emprego, infra-estruturas, transparência e tudo mais.

Das crises falaremos daqui a pouco. Para já, em Agosto de 2015, oito meses depois de Filipe Nyusi assumir a presidência da República, João Pereira concedeu uma entrevista ao SAVANA na qual dizia que ou Nyusi faz história ou será uma desilusão.

Um ano e meio depois, vê história ou está desiludido?
É uma mistura de duas coisas.
Primeiro um sentimento de que o presidente Nyusi está a tentar fazer algo e não está a conseguir e há um sentimento de desilusão porque eu esperava que o presidente Nyusi conseguisse, até certo ponto, fazer algumas rupturas a nível do próprio partido, mas parece que as forças de resistência internas são superiores à sua própria vontade e tenho receio que essas forças, que têm poder até a nível do próprio Estado, vençam atum.
O impacto nas famílias seria muito maior se tivéssemos investido na agricultura. Foi a ganância de acumulação primitiva de capital que fez com que chegássemos onde chegamos e, hoje, todos nós devíamo-nos sentir envergonhados pelo tipo de dirigentes que escolhemos nas urnas.

O professor fala de ganância, mas no dia 25 de Junho, o presidente Guebuza pronunciou-se sobre esta situação e disse que estamos perante uma conjuntura global, tal como o dizem de forma repetida outros membros do partido, do governo e demais gente… As pessoas não são burras É verdade que existe uma estratégia de comunicação por parte da Frelimo em que é preciso atribuir as culpas sempre a certos factores externos, mas o que a Frelimo fez foi educar este povo.

Este povo já não é burro, já não é ignorante. Este povo sabe. A consciência das pessoas mudou. A estratégia de comunicação da Frelimo está a falhar porque eles classificam as pessoas como se fossem ignorantes, como se fossem burras. As pessoas sabem quem é o culpado disso tudo. Até no mercado informal dizem que “pensávamos que o presidente Guebuza fosse um bom filho, mas exagerou”.
Não fomos nós que pedimos, por exemplo, a saída do presidente Guebuza. Aquela senhora que disse que ” (Guebuza) podia mandar uma bomba atómica para nos matar” ela não precisa de ser sofisticada, politicamente, para saber o que se está a passar.

Leia a entrevista na íntegra no jornal Savana do dia 15 de Julho de 2016

Fonte: Savana 15/17/2016 via Macua Blogs

0 comments:

Enviar um comentário