terça-feira, 11 de outubro de 2016

Violência em Boane

O último dia de Setembro de 2016 foi marcado por muita violência, em dois bairros de expansão do município de Boane, a mais de 40 quilómetros da cidade de Maputo. Um grupo alegadamente composto por cerca de 15 homens, munido de armas de fogo, instrumentos contundentes, entre outros, fez um “arrastão” em dezenas de casas, onde, para além de espancar violentamente as vítimas, roubou dinheiro e telefones celulares.
“Encontraram-me na porta da sala e começaram a bater-me. Tinham muitos instrumentos”, descreveu Graciete Fabião. Disse que foi torturada até tirar os quatro mil e quinhentos meticais que tinha guardado. Mesmo depois de terem levado o valor e telefones celulares, a violência continuou e até lhe foi apontada uma arma de fogo. “Quando me apontaram a pistola, houve um jovem que disse ‘vamos, porque o tal fulano já chegou’. Parece que é o chefe deles, que anda de carro”, contou.
Ao que tudo indica, as casas assaltadas foram seleccionadas a dedo. São escassos quilómetros da primeira casa à outra por nós visitada, que também foi vítima dos criminosos. Durante o assalto, que se calcula tenha durado 30 minutos, o grupo torturou os membros da família, ameaçou crianças com armas brancas e levou bebidas alcoólicas e refrigerantes da barraca anexa à casa, além de recargas de telefones celulares.
“Bateram-me com ferros e depois amarraram-me. Eram cinco que vi com pistolas, outros tinham ferros e pás que encontraram aqui ao lado”, disse uma das vítimas.
Num outro ponto do mesmo bairro, escalaram a casa de um oficial da Polícia da República de Moçambique, identificado por Orlando de Magalhães. Foi violentado de tal forma que ficou com os dois braços fracturados. “Na tentativa de fazer força, para poder proteger-me, começaram a atirar contra mim com pé de cabra e progrediram até ao interior do meu quarto, onde, para além de mim, agrediram a minha senhora, exigindo dinheiro”.
Os malfeitores conseguiram oito mil e setecentos meticais. Mesmo assim, acreditavam que conseguiriam mais, uma vez que nessa casa existe uma barraca, por isso, usaram mais violência.
Da casa do oficial Magalhães à outra também visitada pelo mesmo grupo, a distância é de menos de um quilómetro. Nessa casa, até os dois cães de raça Pittbul foram neutralizados. A dona de casa, o esposo e o filho foram espancados com muita violência.
Com hematomas no corpo, a dona de casa, que falou à nossa reportagem em anonimato, disse que escapou à violação sexual: “(Foi) tanta a tentativa de violação que me deixou com muitas marcas nas pernas mais graves que esta”.

O edil de Boane, Jacinto Loureiro, está espantado com o acontecimento, que o classifica de “atípico”. “Foram cerca de 15 a 20 pessoas que invadiram o bairro. Não é normal isto acontecer, não temos tido este tipo de crimes. Aterrorizaram, de certa maneira, a nossa população”.

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