sexta-feira, 19 de junho de 2015
“A música é um veículo transmissor de informação”
A música é o veículo através do qual D’Manyissa pretende comunicar-se com o mundo, passando valores que o ajudam a configurar a paz. Para o efeito, o músico aposta no trabalho em equipa para maximizar a sua arte. A sua música tem um traço apelativo. A exaltação do amor ou da paz não passa despercebido. Porquê? O músico capta factos que acontecem com as pessoas e, através de diferentes tipos de mensagens, tenta transmitir aos diferentes ouvintes. No que diz respeito ao amor, tenho muita veia romântica. Consigo transpor aspectos de relacionamentos nas minhas músicas. O mesmo acontece com a paz, porque acredito ser importante para a sociedade. Com a paz é possível atingir maiores níveis de desenvolvimento. A paz e o amor existem na sua música porque é assim o seu mundo ou, pelo contrário, coloca esses valores pelo facto de o seu mundo não os possuir? Existem e não existem. Se existe, é importante passarmos a mensagem cada vez mais. Precisamos de transmitir o amor aos nossos próximos. Por outro lado, não existe muito, porque, por vezes, acontecem catástrofes na sociedade e ninguém se oferece para ajudar a quem necessita. Em Moçambique, precisamos de nos amar uns aos outros. Uma das músicas que constam do seu repertório é “Tiko dza hombe” (bom país). No seu imaginário, como é esse país? Na verdade, quando pensei no título dessa música estava a pensar num mundo melhor. Procuro mostrar na música que o bem constrói e o mal destrói, e que podemos ajudar-nos uns aos outros com palavras e atitudes. Dessa forma, vamos construir um mundo melhor. Vários autores falaram e falam da paz nas suas composições. No seu caso, não receia que isso se torne num cliché? É fundamental trazer esta temática. Quantas mais músicas existirem que abordam paz, melhor ainda, porque temos de a manter por muito mais tempo. Quanto mais letras que abordem a paz, melhor, porque a música é um veículo transmissor de informação. O que justifica a monotonia nas suas músicas? Preferiria dizer sentimentalismo, em vez de monotonia. Monotonia parece sugerir alguma coisa parada, que não atrai. Não é bem assim. Tenho uma diversidade rítmica nas minhas músicas e todas as músicas lançadas e que já passam nas rádios são diferentes umas das outras. Como é fazer música nesta época em que, com alguns megabytes, se pode ter o CD inteiro de um músico? É um desafio… quando o artista está a produzir, também pensa em ganhar dinheiro. A música é uma arte, mas também é um negócio. Então, é importante que o público saiba consumir o que é autêntico. Só assim podemos suportar os artistas. Frequentou a Escola Nacional de Música. Que contributo aquela instituição tem na sua carreira? Foi muito positivo ter passado por lá. Já tinha um enorme sentimento pela música, mas nunca me havia dedicado. Com a professora Isabel Mabote tive noções de canto e aprendi a cantar. Isso foi muito importante, porque depois me integrei no grupo Jazz Maputo. Se não tivesse noções de canto e trabalhado com Ivan Mazuze, não teria melhorado a minha performance. O país está sedento deste tipo de instituições. Como desenvolver a arte com este impasse? Estamos a avançar. A ECA da UEM já tem formação superior em música. Então, todas as pessoas com vocação podem formar-se lá. Assim, poderemos profissionalizar cada vez mais os músicos. Precisamos de fazer mais, mas já é um bom começo. Devíamos ter criado este tipo de instituições há muitos anos, mas não é tarde. Por que boa parte das suas composições são interpretadas por outras vozes? Quando as minhas músicas são interpretadas por outros cantores, eu estou a partilhar conhecimentos com eles próprios. Não perco nada quando passo as minhas composições a outros cantores. Quando, depois de compor, julgo que a melhor voz para interpretar é a “x” ou a “y”, não tenho problemas em dar a um outro cantor. Passa um pouco por não ser egoísta.
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