"A situação é preocupante, já perdemos quase tudo. No total, são 12.700 hectares perdidos só nesta primeira época de 2016", lamentou à Lusa o director das Actividades Económicas do governo distrital de Guijá, Elias Chaguala.
A população de Guijá, que vive maioritariamente da agricultura de subsistência, esperava que os primeiros meses de 2016 fossem chuvosos, como é habitual, e, por isso, os camponeses lavraram as terras e prepararam as suas sementes, mas a seca prevaleceu.
A falta de chuva começa também a comprometer a função de Guijá de fornecedor de milho para outros pontos do país, incluindo a capital, Maputo.
"Tudo que nós planeámos está comprometido e agora as pessoas já não têm o que comer", observa Chaguala, temendo as previsões de que a seca prevaleça e a situação seja "pior ainda".
À entrada do povoado Chotswana, a cerca de 70 quilómetros da sede distrital de Guijá, uma charrua abandonada no meio de um extenso e árido campo agrícola revela que o desespero começa a dominar os agricultores da região.
"Perdi tudo o que plantei, a solução é vender os poucos animais que tenho, pelo menos para a sobrevivência da família", afirmou Rosa Jonas, uma agricultora de Chotswana e mãe de cinco crianças, sentada debaixo de uma árvore com o filho mais novo ao colo.
Com as represas sem água e o capim quase seco, os pequenos criadores deste povoado são obrigados a percorrer mais de 12 quilómetros para alimentar os animais.
Há inclusive relatos de pessoas que deslocam os animais para os distritos vizinhos, como Chibuto, a cerca de cem quilómetros da sede distrital de Guijá, para que sobrevivam.
Este, como tantos outros, foi o caso de Albertina Sebastião, que dantes percorria mais de 20 quilómetros por dia para procurar água para os seus quatro bois, que acabaram por ser vendidos para alimentar os seus dez netos.
"Os pais destas crianças morreram há muito tempo. Já não temos animais para vender e estamos dependentes da ajuda, porque também não podemos plantar", lamentou, no último lugar de uma fila de mulheres que procuram água num fontanário em Chotswana.
A luta pela sobrevivência leva a que os poucos fontanário existentes sirvam pessoas e também gado, numa situação de iminente perigo para a saúde pública.
"Por falta de alternativa, bebemos com o gado e há casos de pessoas que também usam a água que restou nas represas", afirmou Albertina Sebastião, referindo-se aos charcos insalubres que guardam os últimos pingos de chuva de Janeiro, após largos meses de céu azul.
Paradoxalmente, Guijá é limitado a sul pelo segundo maior rio da África Austral, o Limpopo, que abocanha uma parte do distrito quando o seu caudal enche, provocando inundações, o que este ano não aconteceu.
A falta de apoio financeiro e também de uma estratégia condiciona o aproveitamento da localização geográfica do distrito em benefício dos camponeses, que, mais do que água, pedem agora ajuda "aos amigos de Moçambique".
"Não temos nada, só nos resta pedir que nos ajudem a dinamizar a nossa agricultura", declarou à Lusa Júlio Mabunda, agricultor e líder comunitário de Chotswana, enquanto termina um pequeno poço improvisado que construiu, graças à venda de 12 bois, no seu quintal para a sua família e vizinhos.
"Mas a água que sai daqui não está em condições para ser consumida pelo Homem. Só o gado bebe e precisamos de cavar mais para ter boa água. Já não sei como pagar essa nova despesa", lamentou, enquanto puxa o líquido do poço, com mais 34 metros de profundidade.
"Apesar de tudo, ainda temos esperança e pedimos ajuda de todos, porque as pessoas estão a morrer à fome", concluiu o líder comunitário, evocando o apoio de divindades para "responder às necessidades" das mais de 78 mil pessoas em situação de insegurança alimentar na província de Gaza.
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