quinta-feira, 20 de outubro de 2016

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Não haverá um acordo de paz em Moçambique até 2019” - diz Michel Cahen

O historiador e investigador francês falava durante uma entrevista ao Africamonitor.net em Lisboa.

Michel Cahen, um dos principais historiadores e politólogos sobre Moçambique, não vê solução para a crise política moçambicana até às próximas eleições legislativas, em 2019.

Em entrevista ao Africamonitor.net em Lisboa, afirma que "mais dinheiro dado a regimes que não são democráticos vai encorajar esses regimes a ficar hegemónicos".

Para Cahen, a comunidade internacional “em geral ainda prefere a manutenção do poder da Frelimo”, ignorando sinais de degradação dentro do movimento, por considerar o partido "habituado" a gerir a relação com as grandes multinacionais, o que é "melhor para o capitalismo internacional". Apesar dos esforços de democratização da sociedade civil moçambicana “hoje em dia, na partilha internacional do poder, as condições não estão reunidas” para uma maior democratização, mesmo perante uma Frelimo “completamente apodrecida, com alguns ligados ao tráfico de droga, com corrupção enorme”.
“Para a próxima geração (em África), não sou muito optimista. As novas descobertas de petróleo e metais preciosos, em Moçambique e muitos outros países (...) só trouxeram mais corrupção, mais enriquecimento da elite, mais guerra civil, e isto não é nada bom para a democracia", afirmou Cahen.

O caso dos empréstimos de 2.000 milhões de dólares ocultados da comunidade internacional, canalizados a partir de 2012 para a EMATUM, Proindicus e MAM, todas empresas de segurança, demonstra, segundo Cahen, intenções políticas. “Significa que desde 2012, quando a 2ª Guerra estava só a começar, o Poder já tinha escolhido a via militar”. "O esforço de rearmamento começou naquele momento, não é de hoje em dia", afirmou ao Africamonitor.net.

Para Cahen, o PR Filipe Nyusi, à altura Ministro da Defesa no Governo de Armando Guebuza Guebuza, "obviamente sabia desses empréstimos”.
Relativamente à crise económica e financeira no país, o investigador não tem dúvidas de que foi provocada e fomentada principalmente com a maior centralização do poder no 2ºmandato de Armando Guebuza, quando Ministros e o próprio PR excederam as suas competências". "Pensaram que o preço das matérias-primas se manteria elevado e fizeram empréstimos a empresas de segurança, mesmo sem fazer conhecer esses empréstimos à Assembleia da a República como é constitucional.” Como o preço das matérias-primas baixou ficaram "completamente afogados”, resultando no corte de relações com o FMI.
Na luta política, Cahen prevê que "a longo prazo, o MDM pode ser um perigo muito forte para a Frelimo". Opartido de Davis Simango surgiu após as eleições autárquicas de 2009, de uma cisão de dirigentes da RENAMO, mas que captou uma pequena parte do eleitorado e base social da FRELIMO. “Sendo um partido pacífico, pode enraizar-se nos bairros da cidade, nomeadamente nos bairros da classe média e da elite, a chamada cidade de cimento, em que há um eleitorado que muito dificilmente vai votar na RENAMO por razões históricas da guerra civil de 16 anos, mas que pode votar no MDM”, afirma.

Michel Cahen é Diretor de Investigação do Centro Nacional de Pesquisa Científica de França, Investigador associado na Escola de Altos Estudos Hispânicos e Ibéricos da Casa de Velasquez, em Madrid e Investigador convidado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
O investigador inaugurou na quarta-feira um ciclo anual de Conferências sobre assuntos
Africanos, organizadas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com uma intervenção denominada “As guerras civis moçambicanas (1976-92, 2013-2014, 2015-?) numa perspectiva histórica”.

A morte de Jeremias Pondeca, principal mediador da RENAMO nas conversações com o Governo, ou a ideia de que “há um sector de oposição ao Governo moçambicano que tem esquadrões da morte”, foram alguns dos temas abordados, sobre o conflito actual, aquele que para Michel Cahen é o da 3ª Guerra de Moçambique.

[FONTE: Africamonitor.net]

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