terça-feira, 15 de novembro de 2016

No centro do país: contrabando de combustível ganha terreno devido ao desvalorização do metical

O taxistas e autocarros de passageiros zimbabweanos são os principais compradores do combustível contrabandeado.

O contrabando de combustível para o Zimbabwe tornou-se num negócio emergente na cidade fronteiriça de Manica, centro de Moçambique, aproveitando a forte desvalorização do metical face ao dólar. 
 
O combustível sai de Moçambique no circuito formal – em bidões de 20 litros – na vila fronteiriça de Machipanda e cidade de Manica (província com o mesmo nome), a 15 e 35 quilómetros respetivamente de Mutare, no Zimbabwe, onde alimenta uma enorme rede ilegal de estações de abastecimento de quintal. 

“Compramos o combustível nas bombas Zabir em bidões de 20 litros e durante a noite contrabandeamos através de pontos da fronteira não designados, evitando as forças das guardas que patrulham a linha dos dois lados”, disse um contrabandista.

O contrabando para o Zimbabwe tornou-se num negócio emergente na cidade fronteiriça de Manica, no centro de Moçambique, aproveitando a forte desvalorização do metical face ao dólar — desde o início do ano, a divisa moçambicana já depreciou mais de 50% face ao dólar americano.

Os comerciantes compram a gasolina sem chumbo a 51,99 meticais (0,69 cêntimos de dólar americano) por litro em Moçambique, e vendem a preços entre 0,80 e um dólar americano no circuito informal no Zimbabwe, onde o preço oficial nas estações de abastecimento formal é de 1,25.

“O grosso dos nossos clientes no Zimbabwe são taxistas e autocarros de passageiros. Mas vários funcionários e comerciantes já aderem às estações dos quintais porque lhes sai barato. A vida está cara no Zimbabwe e um produto essencial barato é bem-vindo”, disse à Lusa outro contrabandista, apenas identificado como Loqueto.

Geralmente o combustível é introduzido no Zimbabwe por jovens moçambicanos, que controlam o contrabando de vários produtos e as travessias não designadas na maior fronteira terrestre entre Moçambique e o país vizinho, por vezes nas bagageiras de viaturas particulares ou em camiões de carga.

“Carregamos muitos produtos, mas nos últimos dias bidões de combustível está a bater , o que tem melhorado a nossa vida”, disse à Lusa Frederico, um “jovem de frete” que galga sinuosos caminhos nas montanhas para introduzir no Zimbabwe 60 litros de combustível por cada viagem: “Já me valeu comprar uma mota nos últimos meses“, contou.

Em média, 15 mil litros são vendidos por dia – cerca de 750 bidões de 20 litros – nas quatro estações de abastecimento no distrito, uma na vila de Machipanda e três na cidade de Manica, numa região pacata de baixo consumo de combustível.

“A bomba da Petromoc na entrada da cidade Manica e a de Machipanda foram adaptadas especialmente para abastecer bidões. Mas também já há muitos carros zimbabweanos que recorrem às nossas bombas”, disse à Lusa um funcionário das bombas Zabir, que gerem as quatro estações da região.

A saída em grande escala de combustível foi inicialmente ressentida por taxistas e transportadores públicos em Manica, que dantes disputavam longas filas com os contrabandistas.

“Quando se descobriu esse negócio, passávamos mal para abastecer, enfrentávamos longas bichas nas bombas, e por vezes ficávamos sem gasolina para trabalhar, porque o combustível voava nas estações”, contou o taxista Taurai Floriberto.

O problema ficou entretanto minimizado quando foram adaptadas bombas específicas para os bidões.

“Temos sempre que ficar de alerta, pelo menos abastecer para trabalhar todo dia, porque caso contrário podemos ser surpreendidos com a informação de que já não há combustível, quando já carregámos passageiros”, disse Paunde Mariano, um transportador de “my love” para o interior da província de Manica.

A Polícia escusou-se a abordar o assunto, mas, no outro lado da fronteira, segundo o jornal eletrónico New Zimbabwe, uma mulher foi detida pelas autoridades zimbabweanas na posse de 320 litros de combustível acondicionados em recipientes de 20 litros no seu quintal em Greenside, Mutare.

A mulher, de 39 anos, foi condenada a uma pena de quatro meses de prisão, convertida em multa, por um negócio que está a tornar-se num duro golpe para as estações oficiais.

[FONTE: Eco]

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